domingo, 17 de fevereiro de 2008

CA(N)SAMENTO






Casamento, não a união em si, mas o ato de casar-se, a festa, igreja, essas coisas matrimoniais, são algo um tanto quanto estranho passando na rua da hipocrisia.
Primeiramente, o feliz casal completa uns cinco anos de namoro. Não bastasse a pressão que o homem sofre por parte da namorada e, claro, da sogra, começam a surgir os comentários: “E aí?! Quando sai esse casamento?”, “Tá na hora não?”, “Eita fulaninha! Ele só quer te enrolar!” Daí é como diz a matemática:
Pressão² + Pai Delegado = Pedido na frente da família
Começam então os preparativos para o grande dia. Você acha que gastou muito na sua formatura?! Está redondamente enganado. De nada adianta estar juntando desde o segundo ano da faculdade, o que não gastar na festa vai ser gasto na lua-de-mel. Isso se você já tiver a casa! A sorte é que tem esse negócio de lista de presentes: Deixa-se uma lista no supermercado ou loja de departamento e corre pro abraço. Não esqueça de chamar aquele amigo do primo do seu tio, aquele que é cheio da grana, ele pode dar a geladeira.
Chega-se cedo na igreja para pegar um bom lugar no estacionamento. Mesmo que tenha um posto da PM na frente da igreja o flanelinha irá cobrar cinco reais. Ao entrar não tem quase ninguém. Os músicos passando o som, umas quatro avós, um guri correndo. Isso sem esquecer daquela beata que vê todos os casamentos. O estranho não é isso, é ela chorar em todos. Quarenta minutos depois de estar sentado naqueles confortabilíssimos bancos, começam a entrar os padrinhos seguidos pelo noivo. Este está suando mais que pano de cuscuzeira. Essa entrada é um sinal de esperança: Só faltam uns 20 minutos para a noiva chegar... ... Meia-hora depois, nada da desgraçada! Ela deve achar que a bunda dos convidados é de aço. Ah! A infeliz chegou! Tava na hora já! Vem devagar, olhando pra cara do povo com aquele sorriso político. Enquanto algumas velhotas falam que a maquiagem dela está horrível, dois guris a seguem, putos da vida por estarem ali fazendo aquilo sem nem saber o porquê. Mal o padre pega no microfone pra dar a primeira benção, aquele guri que estava correndo grita pela mãe. O pobrezinho havia se perdido e estava quase chorando. Segue então todo aquele catolicismo (senta-levanta). Mas o que estava faltando? Claro! Um bebê começa a chorar! ... Daí pode beijar a noiva, fotos, arroz e aquela sensação de alívio. A esperança se renova: A janta está próxima!
Você entra no carro após ser extorquido pelo flanelinha, e já não agüenta mais aquela porcaria de gravata. A missão agora é achar o local da recepção. Depois de perguntar a três frentistas de posto, acha-se o local. O local, estacionamento não. Depois de deixar o carro tão longe que era melhor ter vindo a pé, você entra e vai ter que falar com os noivos. A HORA DECISIVA PARA O POBRE PENETRA (Mas se tem uma coisa que eu nunca entendi foi como o casal sempre chegar antes de todo mundo mesmo sendo os últimos a deixar a cerimônia...). Conselho para um penetra: Deixe para entrar em um momento que haja muita gente cumprimentando-os, saque o celular e passe de leve. Fique atentos com a aproximação, eles passam nas mesas perguntando se está faltando alguma coisa.
Enfim a banda começa a tocar. O garçom passa com aquelas garrafas de uísque escocês (cheias do professor ou velho oito), petiscos que parecem de frango mas são de bacalhau. As coroas perguntam:“Tem camarão nisso? É que eu sou alérgica...” e os garçons negam, pena que sempre tem. O ruim de ser o penetra é porque alguém vai notar que você é. Começa a olhar torto pra você e conta pra alguém que espera encarar e fica balançando a cabeça como que diz “Teeeeenha vergonha!”. Não só deixa de te oferecer o que está bebendo como puxa o prato de petiscos pra perto, de um jeito que você tem que se levantar pra tirar a barriga da miséria. Depois que todo mundo (menos o pobre penetra) já encheu o bucho de salgadinho servem o jantar. Aquela fila que parece a do INSS. No cardápio creme de alguma coisa, arroz branco, salpicão comeu-morreu e qualquer coisa ao molho madeira. Ao menor sinal de um guri roubando um brigadeiro que seja, a mesa de doces será destruída. Sempre tem uma que diz “Vou levar pra mamãe, ela adora doces”. A pobre da velha nunca vai ver a cor. Essa hora a banda já está tocando rock anos 60, seu pai já encheu a lata e está fazendo vergonha a sua mãe dançando desvairadamente, uma gordinha de treze anos está dormindo em uma mesa com o paletó de alguém, os garçons doidos para ir pra casa já não serve mais ninguém e sua prima solteirona procura um alvo fácil.
Quando a banda começa a tocar anos 60 é sinal que falta pouco pra acabar, “então vamos logo pra casa porque é deselegante sair por último”. Mas antes sua mãe tem que pegar aquela “lembrancinha” que está decorando a mesa. Andar com um abacaxi na cabeça e cantar O que que a baiana tem chamaria menos atenção que carregar aquilo. Falando em andar, a jornada até o carro é longa. As mulheres reclamam do salto e você tem que ir pegar o carro sozinho no meio do nada. Ora, pino foi feito pra ser batido...
Ao final, um bêbado amigo do noivo o chama para um particular e faz a piadinha “Eeeeita! Noite de núpcias!”. Infelizmente o grau alcoólico do indivíduo permite que o particular se torne público e fala justamente quando a banda pára. Piadas de uns, desespero de outros: o pobre pai da noiva está inconformado com o fato de sua pobre filhinha se entregar a um homem de corpo e alma( principalmente corpo...).


Ian Costa Cavalcanti [Daspamonha]