segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Nova História dos Boêmios Campinenses

Eis que o nobre cidadão chega em seu momento preferido da semana: Noite da sexta-feira. Contente e satisfeito, não sabe o que a Rainha da Borborema separou para seu destino... Uma cidade cheia de bares, restaurantes, lugares para se beber, um cinema caro e um teatro que só passa comédias pastelões que fazem piada do homossexualismo.
Ao sair do trabalho, cansado e louco por diversão, nosso nobre protagonista pensa para onde sairá com sua namorada. “Beber!” Não... Ele sempre foi mais adepto da Parmalat que da Ambev... E agora? O que fazer? ... Ora... quem não tem cerveja caça com Big Mac! Vamos sair para comer besteira, tomar refrigerante e entupir nossas artérias enquanto não chegamos aos 40! Mas o destino não teve pena do pobre rapaz ao colocar do seu lado a terrível possibilidade de sua jovem companheira quase anoréxica estar de regime. Nada mais de pizzas, sorvetes nem o suspeito maionese de Lindo Olhar... “Oh céus! E agora? O que será de nossa noite?”
“Mas não está na moda ser intelectual?” - Com ou sem o tom de pseudo justaposto de hífen antecedendo a palavra central dessa oração...- “Pois bem, vamos ao teatro!” Na chegada, depois dos 45 minutos de engarrafamento e os 15 de estacionamento que completaram a hora perdida de sua vida, os dois chegam à bilheteria onde ficam sabendo que a entrada para ver uma peça de Transformista custa vinte reais, estudante. Em um momento de sanidade, decidem sair dali. No caminho até o carro que ficou quase na integração, nosso herói resolve ler o que havia no papel que o flanelinha o entregou, e com letra retorcida e garrafal lá está “5 real”.
Nosso perseverante casal sai na direção da praia, ficando porém no Iguatemi. Ao estacionar, leia-se “horas depois de encontrar uma vaga”, vão até o cinema e deparam-se com aquela fila mínima da estréia de Homem Aranha 934. Duas horas mais tarde conseguem um confortável lugar na escada da sala 2, momento romântico dos pombinhos, quebrado claro, por aquele guri que sente necessidade de aparecer que infla uma camisinha e joga pela nas cabeças alheias...
Final de noite, passar em uma locadora para pegar algum filme-pipoca, única, derradeira e desesperada opção que restou ao nossos heróis da nave morgação, fadados de uma noite que não deu certo, e não dá há anos, resta o lado bom de ao menos não ter sido assaltado e daquele mototaxista não ter batido ao furar o farol vermelho.

Ian Costa Cavalcanti

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Café e Anarquia


Hoje vi algo muito interessante, estranho e um tanto paradoxal (?). O cenário era de repartição pública: Gavetas e gavetas, armários de metal daqueles que você abre rodando em noventa graus a maçaneta, um vão com móveis mal distribuídos, uma escrivaninha que se encaixa com uma secretária de meia idade, ofícios chegando, papéis infindáveis. Sentiu falta de algo? Claro! Funcionários na pausa para o cafezinho! Além disso, cada um que chega para entregar uma pasta qualquer pára e dá dois dedinhos de prosa com alguém que mal se consegue ver o rosto por sobre o birô haver muitas outras pastas que chegaram antes.
Eu já havia ido lá um dia antes, mas me pediram para voltar outro dia porque a funcionária faltou. Pedi então que me encaminhassem para outra pessoa. Deu certo. Perdão: Deu certo? Esperei quase uma hora pra me dizerem que eu não seria atendido porque a desgraçada da funcionária, aquela que faltou, só ela tinha o número do processo. Legal esse povo, ou pensam que eu sou um idiota ou ainda vivem nos anos 60. “Olha, ta vendo essa caixinha aqui? Chama de C-O-M-P-U-T-A-D-O-R, PC para os íntimos” ou quem sabe “Sabe isso aqui, faz mágica! É! Você consegue falar com pessoas que não estão por perto. Dizem se chamar C-E-L-U-L-A-R”. Ainda me perguntei, no momento em que cuspia fogo, se ela anotava o número dos processos no diário íntimo que guarda na gaveta do criado-mudo. Ora, será que não tem uma agendinha que seja com o número anotado?! Enfim, tive que voltar no outro dia.
E ali estava eu, sentado naquelas “confortabilíssimas” cadeiras, olhando para o nada e esperando. Foi aí que observei uma senhora que conversava com a secretária: Devia ter seus setenta anos, um conjuntinho florido, cabelo num tom vermelho-redepharma, ar de vó e com uma pele que parecia de fruta. Maçã? Pêra? Não, ameixa. Enfim, a mulher passava uma idéia de serenidade, de paz. Não, eu não esta observando desde que entrou para falar, uma vez que aquele ambiente vago penetrou em minha mente me fazendo pensar em nada ou em algo que não lembro. Porém, meu momento de parada cerebral foi quebrado quando a vovó falou “EU?! EU SOU ANÁRQUICA!” Caí compenetrado em meus pensamentos a tentar decifrar o teor daquela afirmativa. Alguém com idade de mãe de mamãe, tão pacífica que parecia. Temi por sua saúde por estar em tão burocrático ambiente. Teria ela algum símbolo tatuado naquele corpinho? Não queria descobrir nem se me pagassem. Pena não ter conseguido ouvir o restante da conversa, mas a impressão que ficou é que, das duas uma: Ou o tempo já havia levado dela algumas noções de vocabulário, ou aqueles rubros fios de cabelo diziam mais de sua ideologia do que qualquer um de nós pensaria.

Ian Costa Cavalcanti

terça-feira, 6 de maio de 2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

CA(N)SAMENTO






Casamento, não a união em si, mas o ato de casar-se, a festa, igreja, essas coisas matrimoniais, são algo um tanto quanto estranho passando na rua da hipocrisia.
Primeiramente, o feliz casal completa uns cinco anos de namoro. Não bastasse a pressão que o homem sofre por parte da namorada e, claro, da sogra, começam a surgir os comentários: “E aí?! Quando sai esse casamento?”, “Tá na hora não?”, “Eita fulaninha! Ele só quer te enrolar!” Daí é como diz a matemática:
Pressão² + Pai Delegado = Pedido na frente da família
Começam então os preparativos para o grande dia. Você acha que gastou muito na sua formatura?! Está redondamente enganado. De nada adianta estar juntando desde o segundo ano da faculdade, o que não gastar na festa vai ser gasto na lua-de-mel. Isso se você já tiver a casa! A sorte é que tem esse negócio de lista de presentes: Deixa-se uma lista no supermercado ou loja de departamento e corre pro abraço. Não esqueça de chamar aquele amigo do primo do seu tio, aquele que é cheio da grana, ele pode dar a geladeira.
Chega-se cedo na igreja para pegar um bom lugar no estacionamento. Mesmo que tenha um posto da PM na frente da igreja o flanelinha irá cobrar cinco reais. Ao entrar não tem quase ninguém. Os músicos passando o som, umas quatro avós, um guri correndo. Isso sem esquecer daquela beata que vê todos os casamentos. O estranho não é isso, é ela chorar em todos. Quarenta minutos depois de estar sentado naqueles confortabilíssimos bancos, começam a entrar os padrinhos seguidos pelo noivo. Este está suando mais que pano de cuscuzeira. Essa entrada é um sinal de esperança: Só faltam uns 20 minutos para a noiva chegar... ... Meia-hora depois, nada da desgraçada! Ela deve achar que a bunda dos convidados é de aço. Ah! A infeliz chegou! Tava na hora já! Vem devagar, olhando pra cara do povo com aquele sorriso político. Enquanto algumas velhotas falam que a maquiagem dela está horrível, dois guris a seguem, putos da vida por estarem ali fazendo aquilo sem nem saber o porquê. Mal o padre pega no microfone pra dar a primeira benção, aquele guri que estava correndo grita pela mãe. O pobrezinho havia se perdido e estava quase chorando. Segue então todo aquele catolicismo (senta-levanta). Mas o que estava faltando? Claro! Um bebê começa a chorar! ... Daí pode beijar a noiva, fotos, arroz e aquela sensação de alívio. A esperança se renova: A janta está próxima!
Você entra no carro após ser extorquido pelo flanelinha, e já não agüenta mais aquela porcaria de gravata. A missão agora é achar o local da recepção. Depois de perguntar a três frentistas de posto, acha-se o local. O local, estacionamento não. Depois de deixar o carro tão longe que era melhor ter vindo a pé, você entra e vai ter que falar com os noivos. A HORA DECISIVA PARA O POBRE PENETRA (Mas se tem uma coisa que eu nunca entendi foi como o casal sempre chegar antes de todo mundo mesmo sendo os últimos a deixar a cerimônia...). Conselho para um penetra: Deixe para entrar em um momento que haja muita gente cumprimentando-os, saque o celular e passe de leve. Fique atentos com a aproximação, eles passam nas mesas perguntando se está faltando alguma coisa.
Enfim a banda começa a tocar. O garçom passa com aquelas garrafas de uísque escocês (cheias do professor ou velho oito), petiscos que parecem de frango mas são de bacalhau. As coroas perguntam:“Tem camarão nisso? É que eu sou alérgica...” e os garçons negam, pena que sempre tem. O ruim de ser o penetra é porque alguém vai notar que você é. Começa a olhar torto pra você e conta pra alguém que espera encarar e fica balançando a cabeça como que diz “Teeeeenha vergonha!”. Não só deixa de te oferecer o que está bebendo como puxa o prato de petiscos pra perto, de um jeito que você tem que se levantar pra tirar a barriga da miséria. Depois que todo mundo (menos o pobre penetra) já encheu o bucho de salgadinho servem o jantar. Aquela fila que parece a do INSS. No cardápio creme de alguma coisa, arroz branco, salpicão comeu-morreu e qualquer coisa ao molho madeira. Ao menor sinal de um guri roubando um brigadeiro que seja, a mesa de doces será destruída. Sempre tem uma que diz “Vou levar pra mamãe, ela adora doces”. A pobre da velha nunca vai ver a cor. Essa hora a banda já está tocando rock anos 60, seu pai já encheu a lata e está fazendo vergonha a sua mãe dançando desvairadamente, uma gordinha de treze anos está dormindo em uma mesa com o paletó de alguém, os garçons doidos para ir pra casa já não serve mais ninguém e sua prima solteirona procura um alvo fácil.
Quando a banda começa a tocar anos 60 é sinal que falta pouco pra acabar, “então vamos logo pra casa porque é deselegante sair por último”. Mas antes sua mãe tem que pegar aquela “lembrancinha” que está decorando a mesa. Andar com um abacaxi na cabeça e cantar O que que a baiana tem chamaria menos atenção que carregar aquilo. Falando em andar, a jornada até o carro é longa. As mulheres reclamam do salto e você tem que ir pegar o carro sozinho no meio do nada. Ora, pino foi feito pra ser batido...
Ao final, um bêbado amigo do noivo o chama para um particular e faz a piadinha “Eeeeita! Noite de núpcias!”. Infelizmente o grau alcoólico do indivíduo permite que o particular se torne público e fala justamente quando a banda pára. Piadas de uns, desespero de outros: o pobre pai da noiva está inconformado com o fato de sua pobre filhinha se entregar a um homem de corpo e alma( principalmente corpo...).


Ian Costa Cavalcanti [Daspamonha]